quarta-feira, 2 de junho de 2010

CONSUMISMO EXACERBADO


Estava refletindo acerca do consumo a partir de uma frase de Aloísio Ruscheinsky, “o consumo desenfreado é uma grave doença moderna”. E sabe que concordo plenamente com suas palavras, mas, não que seja moderna, esta doença tem história e se agravou, de modo que, pessoas estão tomando o consumo como promessa de felicidade, não mais em busca de necessidade, mas, usam o consumir para “ser feliz”, e acabam mais tarde em consultórios querendo compreender o porquê de suas frustrações, por isto uma grave doença penso eu.
Um texto de Domenach “a Sociedade de consumo”, nos traz primeiramente as novas configurações familiares, que a família tende a se restringir ao casal e à primeira geração. Cada vez mais vemos a ausência de pessoas idosas dentro de casa o que contribui para modificar a mentalidade das crianças, que não mais vêem o modelo tradicional de família, que é propagado apenas pela tradição oral, e em meio a isso as crianças são expostas a influência das modas, os pais agora são “os velhos”, as crianças suportam mais impacientemente a “autoridade” e as restrições familiares, vemos assim uma exacerbada perda de valores e adultos delinqüentes que está aumentando por toda parte. O enfraquecimento da imagem do pai causa mais perturbações, a imagem paterna que nos introduz a vida cívica, a lei, normas, na medida em que ele se apaga, a criança tem mais dificuldades para aceitar restrições sociais, culturais e profissionais. A figura materna também sofreu mudanças, pois a mulher adquiriu muitas conquistas, ganhou muitos domínios, mãe, esposa, trabalha fora e dentro de casa, por vezes não tendo tempo também para o “ser mãe”. Cada vez mais comum é ver moças recebendo uma educação equivalente à dos rapazes, muitas optando primeiro por fazer-se profissionalmente, o casamento fica em segundo ou terceiro plano, o ter ou não filhos passa a ser questionado, o individualismo cresce de forma abrupta, e o ficar só, passa a ser uma escolha mais recorrente. A publicidade ataca este DESEJO de individualismo e de promoção que domina a nossa sociedade, sugere estes comportamentos conformes, uns distinguindo-se dos outros através do TER.
Jorge Forbes em seu texto Muito além do Chantilly trás um pouco da história deste comportamento do consumidor atual através de escritos de Gilles Lipovetsky. A fase I da era do consumo se inicia em 1880, terminando na 2ª Guerra Mundial. É nessa fase que os pequenos mercados locais são substituídos pelos supermercados, que tiveram seu nascimento possibilitado pelas novas condições de produção industrial e é neste momento que surge a idéia de “marca”. Com a invenção de marca, do pacote e da publicidade surgiu o consumidor do tempo MODERNO que compra uma assinatura. A compra passa da sobrevivência expressa pela necessidade à arte de VIVER. O II momento vem nos anos 50, época marcada pela produção em massa, que levou ao desejo de diferenciação social pelo status do produto. Compra-se para ostentar, para demonstrar força, riqueza e exclusividade. Um comprar assujeitado ao olhar do outro. Agora seria a III fase do consumo em que as razões íntimas são muito mais importantes que as finalidades distintivas da fase anterior. É, portanto um consumo SUBJETIVO, EMOCIONAL. Os shopping centers segundo Forbes passam a ser farmácias de felicidade.
 Domenach nos trás ainda que cada época segrega um modelo superior, ao qual se conforma em grau maior ou menor, idade média foi dominada pela figura do monge, a época barroca pela do militar, o século XIX pela do operário e agora abre-se diante de nós o reinado do consumidor. A vida se organiza a volta dele, nas propagandas, em rádios, TV, vitrines. O lazer que, antigamente, era o tempo disponível, torna-se paradoxalmente, um tempo cheio e até sobrecarregado.
A sociedade antes de mais nada, do espetáculo, do ter e aparecer, por vezes mais aparecer do que propriamente ter. Os produtos são agora para um uso breve, e não deve  nem ser consertado, nem conservado. É na relação com as coisas que homem está sendo mais atingido, antes elas se prolongavam, serviam de ponto de referência, e ele mantinha com elas uma espécie de amizade, mas o objeto deixou de ser esse companheiro que sobrevivia ás gerações, jogam-no fora e substituem-no rapidamente, deixou de ter uma significação e passou ser prazer momentâneo. Fazendo uma analogia com as pessoas, sim, existe uma coisificação de sentimentos e pessoas também, onde indivíduos por vezes procuram o prazer momentâneo, não dá mais, joga-se “fora”, desvencilha-se, hoje ama e amanhã não mais, substituem-no rapidamente. Entendo que não há mais tolerância para com as diferenças, sujeitos em busca de uma felicidade absoluta, de objetos que os completem, uma busca quase patética de pessoas “PERFEITAS”. Gosto muito de uma citação de Freud: “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz”. Eu compreendo que a felicidade está nos momentos, mesmo que singelos às vezes, ela acontece quando estamos fazendo planos, e por vezes não a percebemos pelo simples fato de não vivermos com intensidade, sobrevivemos apenas, em meio a este consumo exacerbado sem ter tempo para viver, a felicidade é construída no dia-a-dia, é um momento, é um ato, é um sorriso, é um afago, estar entre amigos, família, rir, etc. Não cabe a nós sermos felizes, mas sim nos sentirmos felizes. Sentir-se feliz é uma harmonia interna junto ao social, é se haver com nossas frustrações, expectativas diante dos outros, viver bem é isto, é significar situações e resignificar, a felicidade é uma construção e reconstrução, porque somos seres em constantes transformações, construímos momentos de felicidade e daqui a pouco desconstruímos, mas algo desta felicidade, deste momento, permanece. A felicidade não pode ser vendida, porque ela está em NÓS, ela não está no outro e muito menos nas coisas.
Nessa lógica do consumismo exacerbado, vale tudo para realizar um sonho de consumo: fazer horas-extras, "bicos" ou prestações a perder de vista. "É como se os objetos fossem capazes de propiciar o bem-estar social e a segurança que tanto se reclama e proclama" aponta Ruscheinsky.
E nesta lógica o mundo está indo, sei que o dia de amanhã é incerto demais, mas, temos como exemplos no hoje o crescimento de sujeitos frustrados e consultórios lotados. Indivíduos cada vez mais individualistas, e se continuar este capitalismo crescente, e não houver mudanças drásticas na própria conduta e pensamento humano, veremos cada vez mais...sujeitos depositando em objetos sua satisfação pessoal que como sabemos será fugaz.   Enfim, o consumo é indispensável na vida de todos nós. O que devemos questionar é o significado que este tem atualmente em nossa vida. Você quer o que deseja?! Este livro de Jorge Forbes é muito bom, para refletirmos acerca do consumo. Vamos refletir sobre!
Aliene lemes!

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